A frase "através dos outros, nos tornamos nós mesmos", é fundamental para se compreender o processo clÃnico psicoterápico. Vigotski, que realçava a importância do social, tanto na constituição da consciência, quanto no processo de aprendizagem - o pilar do materialismo dialético - se mostra, cada vez mais, válido, não apenas na compreensão do desenvolvimento infantil e aprendizagem, mas também no processo clÃnico terapêutico.
Esse processo clÃnico é movimento - trocas afetivas - entre o psicólogo e o analisando. É afetivo, pois, acontece, além da aplicação teórica/técnica/cientifica, um movimento (dialético) de emoções, paixões e fantasias, entre os envolvidos na análise, bem como o 'peso' dos papéis sociais de cada envolvido, implicações sócio-econômicas, limitações materiais e ideológicas, que podem (e certamente o faz) influenciar a analise, seja para seu avanço quanto seu retrocesso; há, desta forma, uma luta de contrários dos próprios indivÃduos.
O terapeuta, monido de suas técnicas e teorias, não está (e longe disso) distantes de suas paixões e limitações; o analisando, em dor e sofrimento, incerto de como irá encarar essa dor, deposita no processo terapêutico sua busca em compreender seu ser e história: aqui, perante essas trocas dialéticas de necessidades e afetos de um e outro, é o palco para um dos mais belos feitos cientÃficos da modernidade: o processo terapêutico, que, para nós vigotskianos, não se dá apenas de um lado (do terapeuta), mas sim, nas relações sociais entre analista e analisando (psicólogo e paciente).
Na teoria Vigotskiana, chamamos esse 'movimento' entre os indivÃduos no processo terapêutico de 'método construtivo'. A terapia Vigotskiana não é posta prontamente ao analisando; ela é construÃda junto a ele, na medida que a terapia e seus indivÃduos vão se relacionando, buscando, através do diálogo e da reflexão, a compreensão da dor e das necessidades que aparecem no contexto clÃnico. Assim, "através dos outros, nos tornamos nós mesmos", vai além do contexto escolar/educacional - aprendo com o outro no processo terapêutico, e levo o outro para dentro de meu próprio ser... [continua].